Quatro reflexões de Bill Gates sobre tecnologia climática
Energia

Quatro reflexões de Bill Gates sobre tecnologia climática

Porque ele acredita que metas de curto prazo podem ser uma distração — e quais tecnologias espera que alimentem a nossa rede elétrica no futuro

Bill Gates não evita nem finge modéstia quando o assunto é a sua posição no mundo climático atual. “Bem, quem é o maior financiador de empresas de inovação em clima?”, perguntou ele a um pequeno grupo de jornalistas num evento de mesa-redonda, na semana passada. “Se houver outra pessoa, nunca a conheci.”

O ex-CEO da Microsoft passou a última década a investir em tecnologia climática através da Breakthrough Energy, que fundou em 2015. Antes das reuniões climáticas da ONU que começam na próxima semana, Gates publicou um memorando onde detalha aquilo em que acredita que ativistas e negociadores deveriam concentrar-se e como está a pensar o estado atual da tecnologia climática. Vamos ao que interessa.

Estamos demasiado focados em metas climáticas de curto prazo?

Um dos pontos centrais que Gates apresentou no seu novo memorando é que acredita que o mundo está excessivamente focado em metas de emissões de curto prazo e em relatórios nacionais de emissões.

Por isso, em paralelo à estrutura nacional de contabilidade de emissões, Gates argumenta que deveríamos ter discussões climáticas de alto nível em eventos como a conferência climática da ONU. Essas discussões deveriam adotar uma visão global sobre como reduzir as emissões em setores essenciais, como energia e indústria pesada.

“A maneira como toda a gente produz aço é a mesma. A maneira como toda a gente produz cimento é a mesma. A maneira como fazemos fertilizantes é, no fim de contas, a mesma coisa”, diz ele.

Como observou num ensaio recente para a MIT Technology Review, vê a inovação como a chave para reduzir o custo das versões limpas de energia, cimento, veículos e assim por diante. E, quando os produtos se tornam mais baratos, podem alcançar uma adoção mais ampla.

O que provavelmente alimentará a nossa rede elétrica no futuro?

“No longo prazo, provavelmente a fissão ou a fusão serão a forma mais barata de produzir eletricidade”, afirma. (Vale a pena observar que, como acontece com a maioria das tecnologias climáticas, Gates tem investimentos tanto em empresas de fissão como em empresas de fusão, através da Breakthrough Energy Ventures, pelo que tem interesse direto no assunto.)

Gates reconhece, porém, que os reatores provavelmente não entrarão em operação com rapidez suficiente para responder ao aumento da procura por eletricidade nos Estados Unidos. “Gostaria de poder entregar fusão nuclear, tipo, três anos antes do que consigo.”

Ele também comentou sobre a liderança da China tanto em energia nuclear por fissão como por fusão. “A quantidade de dinheiro que eles estão a colocar em fusão é mais do que o resto do mundo junto vezes dois. Quero dizer, não há garantia de que vá funcionar. Mas diga qual é a sua abordagem favorita de fusão aqui nos Estados Unidos. Pois bem: já existe um projeto chinês sobre isso.”

A remoção de carbono pode fazer parte da solução?

Eu tinha em mente a matéria recente do meu colega James Temple sobre o que vem a seguir para a remoção de carbono, por isso perguntei a Gates se ele via os créditos ou a remoção de carbono como parte do pensamento problemático de curto prazo que mencionou no memorando.

Gates compra compensações para anular as suas próprias emissões pessoais, algo em torno de 9 milhões de dólares (cerca de 8 milhões de euros) por ano, disse ele na mesa-redonda. Mas não espera que muitas dessas compensações causem um impacto significativo no progresso climático em larga escala. “Essas coisas, a maioria dessas tecnologias, são um beco sem saída completo. Não se tornam suficientemente baratas para serem significativas.”

“Sequestro de carbono a 400 dólares, 200 dólares, 100 dólares, nunca pode ser uma parte significativa deste jogo. Se tiver uma tecnologia que começa em 400 dólares e pode chegar aos 4 dólares, então aleluia, vamos em frente. Eu ainda não vi essa. Há algumas agora que parecem poder chegar aos 40 ou 50 dólares, e isso pode desempenhar algum papel.”

A IA será uma boa notícia para a inovação?

Durante a discussão, comecei uma contagem no canto do meu caderno, adicionando um traço cada vez que Gates mencionava IA. Ao longo de cerca de uma hora, cheguei a seis marcas e, com certeza, deixei de registar algumas.

Gates reconheceu que a IA irá aumentar a procura de eletricidade, um desafio para uma rede elétrica dos Estados Unidos que não vê a procura líquida subir há décadas. Mas o mesmo acontecerá com os carros elétricos e as bombas de calor.

Fiquei surpreendida com o quão positivamente ele falou sobre o potencial da IA:

“A IA vai acelerar cada pipeline de inovação que possa citar: cancro, Alzheimer, catalisadores em ciência dos materiais, o que quiser. E todos nós estamos a tentar perceber o que isso significa. Este é o maior agente de mudança no mundo hoje, avançando a um ritmo muito, muito rápido… cada empresa inovadora de energia será capaz de avançar mais rapidamente graças ao uso destas ferramentas, algumas de forma muito dramática.”

Vou acrescentar que, como já observei aqui antes, sou cética em relação a grandes afirmações sobre o potencial da IA para ser uma solução mágica em todos os setores, incluindo a tecnologia climática.

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