Humanos e Tecnologia

Como a tecnologia pode impactar a educação financeira

A baixa educação financeira da população é um dos grandes problemas mundiais. A tecnologia oferece possibilidades, como o desenvolvimento de aplicações, para solucionar essa questão.

Para a maior parte das pessoas, organizar as finanças pessoais é uma tarefa complicada e que exige tempo. Superar esse obstáculo pode se tornar mais fácil com a adoção de tecnologias. Uma investigação da Universidade do Alabama mostra que o conhecimento financeiro influencia a relação dos indivíduos com o dinheiro. Os autores do estudo sugerem que educação financeira deve ser uma questão de política pública, destacando que a eficácia da medida é resultado direto de um processo educacional focado no desenvolvimento de bons hábitos financeiros.

Cada vez mais pesquisas têm mostrado como a educação financeira pode melhorar a perspectiva de sucesso das pessoas, permitindo que tomem melhores decisões sobre as suas finanças. Isso porque envolve conhecimento, habilidades, consciência e padrões financeiros que são levados em conta na escolha por gastar, poupar ou investir. Além disso, a educação financeira melhora a confiança e autoestima das pessoas.

A gestão das finanças pessoais pode ser simples para alguns, mas ainda é difícil para muitos. Por isso, associar educação financeira à tecnologia pode ajudar na compreensão de que administrar bem o dinheiro é um dos aspectos mais importantes da sua vida. Porque afeta o seu presente e principalmente o seu futuro, sendo determinante para a realização dos sonhos sem endividamento.

Apesar dos esforços para reverter o cenário, o nível de educação financeira ainda é muito baixo. Mas, afinal, qual é a definição de educação financeira? A Standard & Poor ‘s realizou o estudo Global Financial Literacy Survey no qual definiram educação financeira como: “a capacidade de entender como funciona o dinheiro”. Ou seja, como alguém consegue ganhar, gerir, investir ou como doar para ajudar os outros.”

Assim, segundo o estudo, para que uma pessoa fosse considerada alfabetizada financeiramente, precisaria responder corretamente pelo menos três questões sobre quatro conceitos básicos de educação financeira. Os resultados mostram que somente 33% dos adultos em todo o mundo são alfabetizados financeiramente. Isso significa que cerca de 3,5 mil milhões de adultos no mundo, a maioria deles em economias em desenvolvimento, carecem de uma compreensão dos princípios financeiros básicos. Como mostra o mapa abaixo, esses números globais indicam profundas disparidades em todo o mundo com relação à educação financeira.

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o 4º pior país em competência financeira de jovens. Os dados apresentados mostram que existe uma relação entre pobreza e dificuldade em fazer contas básicas de matemática financeira.

Considerando este cenário, a tecnologia surge com a proposta de aumentar a educação financeira de forma a resolver este problema. Essa proposta é interessante, especialmente porque deve beneficiar a geração Millennial, que é altamente conectada à Internet.

A tecnologia como aliada na educação financeira

Nos últimos 30 anos, a tecnologia transformou as nossas vidas. Especialmente quando pensamos em como os smartphones nos possibilitaram ter o mundo nas nossas mãos. Embora entendamos que a tecnologia surgiu para facilitar as nossas vidas, não temos aproveitado ao máximo a sua capacidade de transformar as nossas finanças.

A cada dia, novas aplicações são desenvolvidas de forma que possamos, além de gerir o nosso dinheiro, também fazer um orçamento familiar e economizar ao escolher o melhor local para realizar as compras, e diversas outras maneiras que a tecnologia pode nos ajudar a termos um plano financeiro holístico.

Para a geração Millennials, que nasceu num contexto tecnológico, o processo de utilizar a tecnologia na educação financeira pode ser ainda mais simples do que para gerações anteriores. Começar a administrar as finanças ainda jovem é uma vantagem, pois terá a oportunidade de experimentar diversas ferramentas e aplicações que podem auxiliá-lo na gestão financeira, da forma que melhor se adequar ao seu perfil.

A questão da privacidade dos dados é um fator que ainda afasta as pessoas de ferramentas digitais para a administração das finanças. Há o receio de que as informações pessoais sejam utilizadas para outros propósitos. Essa preocupação é válida, mas a cada dia as empresas têm procurado formas de proteger os dados dos clientes com o objetivo de evitar crimes cibernéticos. Apesar do risco da utilização dos nossos dados por terceiros, os benefícios de utilizar a tecnologia na administração das finanças pessoais são maiores.

Dez maneiras de como a tecnologia pode impactar a educação financeira

Utilizar a tecnologia para aprender sobre educação financeira e gerir as tarefas financeiras reduz o tempo que gasta para gerir as suas finanças pessoais, pois muitas tarefas podem ser realizadas com o auxílio de aplicações.

1) Aprenda sobre educação financeira: com a rotina corrida, às vezes é difícil separar um tempo para estudar e ler livros sobre o tema. Assim, para que aproveite ao máximo o seu tempo, é possível aprender sobre educação financeira por meio de podcasts. Mas, se prefere consumir conteúdo por meio de vídeos, há diversos canais no Youtube que podem te ajudar a aprender sobre educação financeira.

2) Registe as suas receitas e despesas: tenha controlo das entradas e saídas. Saber onde e como está a gastar o seu dinheiro é essencial, pois num momento de crise saberá quais gastos podem ser cortados e quais não devem ser cortados. Em caso de demissão ou redução de receita, imediatamente, ajuste as suas despesas a esta nova realidade. Há diversas aplicações que podem te auxiliar nesta tarefa.

3) Corte despesas recorrentes: é bom ter vários serviços de streaming para escolher. Mas, como diz o economista e prémio Nobel Milton Friedman, “não há almoço grátis.” Ter várias opções do que assistir é bom, mas há um custo. A recomendação é que reavalie os serviços que têm assinatura mensal, ou seja, são recorrentes. Por exemplo, há assinatura de jornal, clubes de assinaturas, entre outros serviços, que paga, mas não usa. As despesas mensais recorrentes, muitas vezes, podem ser armadilhas que te levam a perder o controle do seu planeamento financeiro. Todas essas despesas precisam ser lançadas, principalmente, as despesas recorrentes, pois são invisíveis.

4) Crie lembretes: tendo em vista que criar o hábito de registar as receitas e despesas é essencial, pode utilizar a tecnologia ao seu favor. Primeiro, escolha um horário para que todos os dias possa fazer esse registo. Para que não se esqueça de fazer isso, crie alertas no seu telemóvel ou utilize a sua agenda digital. Com o tempo, isso se tornará um processo automático e não precisará mais dos lembretes.

5) Tenha um orçamento: depois de registas todas as suas receitas e as suas despesas, agora é a hora de fazer um orçamento. Da mesma forma que as empresas precisam ter um orçamento, nós também precisamos ter um orçamento pessoal. Ou seja, precisamos registar e projetar as despesas mensais. Vale ressaltar que neste orçamento, é fundamental também considerar o valor que será poupado a cada mês.

6) Tenha uma reserva de emergência: o recomendado é que tenha uma reserva financeira que cubra todas as suas despesas mensais por seis meses. É importante destacar que a reserva de emergência precisa ser aplicada em investimentos de curto prazo e com alta liquidez, pois pode precisar deste dinheiro em caso de necessidade. Algumas possibilidades de investimento: CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito do Agronegócio). Todos esses investimentos podem ser realizados por meio da aplicação do seu banco.

7) Defina e reavalie as suas metas financeiras: reserve um momento para você definir as suas metas financeiras de curto, médio e longo prazo. Estabeleça uma periodicidade para você reavaliar as suas metas financeiras, e se for o caso, fazer os ajustes. Caso você esteja endividado, a sua primeira meta deverá ser organizar as suas finanças. Ou seja, sair do vermelho. Depois que as suas finanças estiverem organizadas, defina metas ousadas, mas exequíveis. No aplicativo que escolher para registar as suas receitas e despesas, também poderá utilizá-lo para registrar as suas metas.

8) Cupões de desconto: a tecnologia também pode ser útil para que consiga economizar ao utilizar aplicações de cupons de desconto. Muitas empresas estão a utilizar esses cupons para fidelizar os seus clientes. Assim, oferecem cupons de promoção que podem ser em percentagem, valor fixo ou portes grátis. Seja qual for a opção, toda economia é bem-vinda.

9) Compare preço: a educação financeira também envolve comparar os preços de forma a fazer as melhores compras. Assim, na hora de fazer compras em lojas virtuais é importante considerar o valor dos portes, caso sejam cobrados. Caso não tenha urgência em realizar a compra, pode criar alertas que o avisem quando o preço cair ou atingir o valor que está disposto a pagar. Para facilitar a comparação de preços, é possível utilizar algumas aplicações.

10) Acompanhe as finanças a partir de qualquer lugar: não sei se já passou por isso, mas é desesperante verificar a conta bancária e perceber que há débitos que não sabe do que se trata. Ou então, receber a fatura do seu cartão de crédito e ver que há compras que não identifica. Por meio da aplicação do seu banco ou do seu cartão de crédito, é possível acompanhar as suas finanças de qualquer lugar e resolver estas situações da maneira mais simples ao contestar o débito ou a compra pela própria aplicação.

Criar o hábito de utilizar a tecnologia para aumentar a nossa educação financeira pode parecer difícil no primeiro momento, mas com o tempo isso se tornará automático. E as diversas aplicações desenvolvidos nos últimos anos facilitam esta tarefa.

Artigo de Rogiene Batista dos Santos, Autor – MIT Tecnology Review Brasil

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