Como a tecnologia tornou-se protagonista na geração de empregos
Negócios e Economia

Como a tecnologia tornou-se protagonista na geração de empregos

A evolução tecnológica sempre significou progresso, inclusive enquanto faceta corporativa. Acontece que agora as regras estão dispostas ao jogo do exponencial. 

Ao longo da história, diversas invenções e descobertas mudaram a forma de produzir, consumir, comunicar e se relacionar uns com os outros. Algumas dessas evoluções tecnológicas tiveram um impacto maior na geração de empregos, seja criando novas ocupações, substituindo ou modificando as existentes.  

As evoluções tecnológicas são transformações que ocorrem nos meios de produção, comunicação e informação, visando melhorar as condições de vida e trabalho da humanidade. São frutos da criatividade, da curiosidade e do conhecimento científico dos seres humanos, que buscam soluções para os problemas e desafios que enfrentam em diferentes épocas e contextos.  

A história da humanidade é marcada por diversas evoluções tecnológicas, desde as primeiras ferramentas de pedra, madeira e osso até os atuais dispositivos digitais, inteligentes e conectados. Cada disrupção traz consigo benefícios e desafios, oportunidades e riscos, mudanças e adaptações.  

São o motor para o avanço da humanidade, pois possibilitam o desenvolvimento de novos conhecimentos, habilidades e competências; a ampliação dos horizontes culturais e das formas de expressão; a melhoria da qualidade de vida e da saúde; a solução de problemas sociais e ambientais; a democratização do acesso à informação e à participação política; a inovação e a criatividade; a diversidade e a inclusão.  

É factível dizer que a primeira grande evolução tecnológica que a humanidade vivenciou em proporções corporativas foi a Revolução Industrial do século XVIII e o surgimento das máquinas a vapor.   

Inglaterra foi palco do início da mecanização da produção em fábricas e fundições. A invenção do tear mecânico, por exemplo, revolucionou a indústria têxtil, aumentando a produtividade e reduzindo os custos.  

Primeira Revolução Industrial: a extensão do braço humano  

De acordo com o estudo “A Primeira Revolução Industrial e o surgimento do desemprego moderno”, publicado na Revista de Economia Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Primeira Revolução Industrial teve um impacto significativo na geração de empregos, pois provocou uma migração em massa da população rural para as cidades em busca de trabalho nas fábricas.  

Muitos trabalhadores foram substituídos pelas máquinas ou tiveram que se adaptar às novas exigências do mercado. Essencialmente, significa a substituição da manufatura pela maquinofatura.  

Tal movimento aconteceu por diversos fatores, como o acúmulo de capital proveniente do comércio internacional, a disponibilidade de matérias-primas e fontes de energia, a expansão dos mercados consumidores e a inovação tecnológica.   

A Primeira Revolução Industrial também promoveu o avanço dos transportes e das comunicações, que facilitaram o escoamento da produção industrial e a circulação de pessoas, mercadorias e informações. Estradas de ferro que melhoraram as condições das vias e dos canais; as ferrovias que interligavam as regiões produtoras e consumidoras e reduziram os custos e os tempos de transporte; os navios a vapor que aumentaram a velocidade e a segurança das viagens marítimas; o telégrafo que permitiu a comunicação instantânea à distância.  

Houve um impacto profundo na sociedade e no mundo do trabalho em virtude da alteração das relações de produção, de propriedade e de classe. A Primeira Revolução Industrial também provocou mudanças demográficas, urbanísticas, culturais e ambientais.  

Segunda Revolução Industrial: eletricidade e petróleo  

Eis que na segunda metade do século XIX temos o que chamamos de Segunda Revolução Industrial: a eletricidade e o petróleo para o mundo. Não era mais um fenômeno britânico: mercados internacionais ambicionavam o poder. As commodities possibilitaram o surgimento de novas fontes de energia e de novos meios de transporte e comunicação.  

A invenção do motor a combustão interna, por exemplo, impulsionou a indústria automobilística, ferroviária e naval. A invenção do telégrafo, do telefone e do rádio facilitou a transmissão de informações à distância.  

No artigo “A Segunda Revolução Industrial e o surgimento do desemprego estrutural”, publicado por Luiz Carlos Bresser-Pereira na Revista de Economia Contemporânea pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é descrito o impacto positivo gerado pela Segunda Revolução Industrial na geração de empregos. A partir dela novas ocupações foram criadas nas áreas de engenharia, metalurgia, química, eletricidade e comunicação. Além disso, melhorou a segurança e as condições de trabalho nas fábricas, com a introdução da iluminação elétrica e da ventilação. Também estimulou o surgimento dos sindicatos e dos movimentos sociais em defesa dos direitos dos trabalhadores.  

Tal revolução tecnológica fora motivada por fatores como a expansão dos mercados consumidores, a concorrência entre as potências industriais, o avanço científico e tecnológico, o surgimento de novas fontes de energia e matérias-primas e a reorganização do trabalho nas fábricas.   

O movimento ocorre em um contexto de crescimento populacional, de urbanização e de aumento da renda das classes médias e operárias. Isso gerou uma maior demanda por bens e serviços, estimulando a produção industrial e o comércio internacional. Também foi impulsionada pela rivalidade econômica e política entre os países industrializados, que buscavam ampliar seus mercados, territórios e sua influência pelo mundo. Isso levou à corrida armamentista, à disputa colonial e às guerras mundiais.   

A reorganização do trabalho nas fábricas envolveu uma mudança na forma de organizar e gerenciar o trabalho nas unidades produtivas. Foram adotados métodos de racionalização do trabalho, como o taylorismo e o fordismo, que visavam aumentar a produtividade, a qualidade e a padronização dos produtos industriais.  

Terceira Revolução Industrial: internet e globalização 

O estudo “Considerações sobre a Terceira Revolução Industrial e a Força de Trabalho”, publicado por Maria Lúcia Teixeira Werneck Vianna, na Revista Ciência & Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), discorre sobre a chamada Terceira Revolução Industrial, ocorrida entre os séculos XX e XXI, principalmente nos Estados Unidos e no Japão.   

Foi marcada pelo desenvolvimento da informática e das telecomunicações, que permitiram o surgimento dos computadores pessoais, da internet, da Inteligência Artificial e da robótica.   

Esse é um fenómeno que tem um impacto ambíguo na geração de empregos, pois ao mesmo tempo em que criou novas ocupações nas áreas de informática, telecomunicações, biotecnologia, nanotecnologia e outras correlatas, também eliminou ou reduziu muitas ocupações tradicionais que foram automatizadas ou completamente digitalizadas.  

Enquanto a Primeira Revolução Industrial significava a extensão do braço do homem, aqui o jogo começou a ser sobre a extensão da capacidade cognitiva do homem.  

O uso intensivo da tecnologia e da informática na produção industrial gerou efeitos como o aumento da produtividade, com reflexo na qualidade e na diversidade dos produtos. Também se desenvolveram no período a robótica, a engenharia genética e a biotecnologia. Outro efeito desencadeado pela Terceira Revolução Industrial é a diminuição dos custos da produção industrial, que permitiu mais lucros para as empresas e estimulou o consumo. Em decorrência disso, o capitalismo financeiro se consolidou e a globalização se tornou real. Sob o viés da sustentabilidade, esse período permitiu o desenvolvimento e a utilização de fontes de energia alternativas, menos poluentes para o meio ambiente.   

Quarta Revolução Industrial: a extensão do cérebro humano  

Vivemos agora a Quarta Revolução Industrial, a expansão da internet, da Inteligência Artificial e da robótica. São as novas formas de produção, consumo, comunicação e interação. A invenção das redes sociais, dos smartphones, dos drones, dos carros autônomos, dos assistentes virtuais e dos sistemas de Big Data 

Tal revolução, de acordo com o artigo “O Trabalho na Quarta Revolução Industrial”, publicado por Ricardo Silva Rizzeto ao Núcleo do Conhecimento, tem um impacto ainda incerto na geração de empregos, pois depende de vários fatores, como o ritmo de adoção das novas tecnologias, o nível de educação e a capacitação dos trabalhadores, o grau de regulação e proteção social dos governos e a demanda por novos produtos e serviços.   

O uso intensivo de máquinas inteligentes, que podem aprender e se comunicar entre si e com os humanos, graças à Inteligência Artificial e aos algoritmos; a importância dos dados e da informação, que são as mais poderosas ferramentas para a inovação; a produtividade, o comércio e a gestão definitivamente são imperativos de aprendizado e capacitação para o futuro.   

Uma Revolução Industrial que provoca uma mudança nas relações de trabalho, que se tornam mais flexíveis, dinâmicas e competitivas, exigindo maior qualificação e adaptação do ambiente corporativo. Além disso, provoca uma mudança nas relações sociais, que se tornam mais complexas, diversificadas e interconectadas, graças aos avanços nos meios de comunicação.  

Evolução tecnológica significa progresso do modus operandi da humanidade  

Em cada fase da Revolução Industrial, novas tecnologias surgiram ou se aprimoraram, alterando a forma de produzir e consumir bens e serviços. Algumas dessas tecnologias tiveram um impacto maior na geração de empregos, criando novas ocupações ou modificando o modus operandi de então.  

São processos dinâmicos e complexos que afetam todos os aspectos da vida humana. São oportunidades para o progresso, mas também exigem reflexão e cuidado. O desafio para o futuro é acompanhar as mudanças tecnológicas sem perder de vista os valores humanos, sociais e ambientais que devem nortear o trabalho digno e sustentável.  

Segundo o Fórum Econômico Mundial, em 2025, a automação e a nova divisão do trabalho entre humanos e máquinas impactarão em 85 milhões de empregos em todo o mundo. Alguns empregos serão substituídos por robôs ou algoritmos, enquanto outros serão criados ou transformados. A estimativa é que 97 milhões de novos empregos surjam nos setores de economia verde, economia criativa, cuidados de saúde e tecnologia da informação.  

Para se adaptar a esse cenário, precisaremos desenvolver habilidades do trabalho do futuro, bem como competências tanto técnicas quanto comportamentais. Exige uma visão ampla e integrada das tendências e dos impactos trazidos à sociedade.  

É preciso estar atento às oportunidades e aos riscos que oferecem para os indivíduos, as organizações e o meio ambiente e é preciso se preparar para as mudanças que o futuro (presente) impõem para o desenvolvimento pessoal e profissional.  

Deixa de ser valorizado o profissional especialista e ganha destaque o polímata, aquele que tem a capacidade de gerar e usar conhecimentos de áreas distintas para combinar ou agrupar as coisas de maneiras diferentes. A multidisciplinaridade é vista como uma habilidade essencial para analisar uma questão sob diferentes ângulos e encontrar com mais facilidade a solução de problemas complexos.  

Da mesma forma, o profissional criativo tem a capacidade de conectar informações aparentemente dissociáveis e, a partir dessa conexão, construir ideias inovadoras para apresentar algo novo. Além disso, assimila muito rapidamente e sabe tirar proveito de cenários de rápidas transformações em produtos, tecnologias e modos de trabalho.  

O mercado e as estruturas organizacionais estão em constante mudança. Sendo assim, o ideal é que o profissional do futuro seja flexível em situações de imprevistos ou novos desafios e consiga transformá-las em oportunidades, adaptando-se às mesmas sem que sua performance seja prejudicada.  

Embora haja muito avanço em áreas como automação do trabalho e Inteligência Artificial, os colaboradores continuam sendo o recurso mais valioso de qualquer empresa.   

Este artigo foi produzido por Bruno Nardon, colunista da MIT Technology Review Brasil. 

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