Inovação

Transformação Digital: a mudança nas Cadeias de Valor

O reconhecido economista Michael Porter no seu livro “Competitive Advantage: creating and sustaining superior performance” (Porter, 1998) , originalmente lançado em 1985, introduziu o importante conceito e modelo de Cadeia de Valor e que se estabeleceu como um padrão de facto na economia. Esse modelo explica, de uma forma simples e assertiva, a estrutura sistemática do conjunto de atividades necessárias para entregar produtos ou serviços de valor acrescentado pelas empresas ao mercado. 

Naquela época, Porter também entendeu o valor da Informação como uma infraestrutura fundamental para alcançar modelos eficientes nas organizações, em particular nas transações existentes entre os diversos fluxos organizacionais, nomeadamente entre atividades de suporte e atividades centrais da empresa. 

Contudo, hoje o paradigma da Transformação Digital e a conquista de níveis mais elevados de maturidade tecnológica tem tornado evidente que o papel e a importância dos Sistemas de Informação e do Digital não podem ser confundidos como simples tecnologias de informação que suportam as atividades de negócio. Jim Collins, no seu best-seller “Good to Great: Why Some Companies Make the Leap and Others Don’t” (Collins, 2001), reflete precisamente isso quando refere que os Aceleradores de Tecnologia são uma das razões para a aceleração e sustentabilidade de modelos de negócio. Tal significa que a tecnologia está entre os processos e os diversos recursos das empresas, e não apenas como um ator passivo e reativo ao desenvolvimento de negócio.

Uma das bases fundamentais é desde logo saber que os Sistemas de Informação são diferentes da Tecnologia da Informação por serem um conjunto de três componentes principais – Pessoas, Processos e Tecnologia da Informação – (Bourgeois, 2014). A outra é entender que o valor da informação no mundo dos negócios de hoje, também previsto por Michael Porter e outros autores, é a constatação factual de que a tecnologia é um acelerador fundamental para empresas eficientes e sustentáveis.

Tudo isto significa que os Sistemas de Informação são mais do que o desenvolvimento de Tecnologia nas atividades de suporte da cadeia de valor. 

Neste século XXI, os Sistemas de Informação precisam ser entendidos como uma atividade primária do dia a dia da empresa, e, portanto, estratégica e essencial para a entrega do produto ou serviço (Fig. 1 – Cadeia de Valor da segunda geração). Este reconhecimento como atividade primária é a garantia de que existe uma área específica e crítica dentro da empresa que estará sempre em busca da adequação e alinhamento perfeito entre pessoas, processos e tecnologia. Será este equilíbrio e diferenciação de gestão interna que garantirá a vantagem competitiva de hoje e do futuro próximo.

Figura 1 – Cadeia de valor de segunda geração (Ribeiro, 2021)

Nicholas Carr, no seu artigo “IT Doesn Don’t Matter” (Carr, 2003), tocou num ponto de dor para muitos informáticos, quando referiu que Tecnologia da Informação é uma commodity para empresas, como água e eletricidade. Em 2003, quando Carr escreveu este artigo, já tinha entendido que a vantagem competitiva não estava na tecnologia, mas na forma como as empresas a usavam e a alavancavam como questão estratégica. Este é um exemplo de que a vantagem competitiva não está nas Tecnologias de Informação, mas sim nos Sistemas de Informação e na capacidade de trabalhar toda uma Estratégia Digital de Negócio.

O surgimento de funções como Chief Information Officer (CIO) e Chief Digital Officer (CDO), na estrutura organizacional de várias empresas, são exemplos dessa mudança nas cadeias de valor. Eles não são o Chief Technology Officer (CTO), que gerem apenas a infraestrutura de tecnologia (o fator commodity). Não se espera que um CTO seja um motor estratégico, mas um motor operacional alinhado com o suporte diário da infraestrutura empresarial, conforme visto na Cadeia de Valor de Porter (primeira geração). Os CIO e CDO são motores para Inteligência Competitiva empresarial, o que significa que as suas funções estão mais alinhadas com o futuro estratégico e o movimento de longo prazo da empresa e não apenas com o dia a dia operacional.

Os Sistemas de Informação precisam hoje ser entendidos como um influenciador estratégico da empresa, ou seja, não é a “velha” TI de uma empresa. 

Podemos aplicar aqui a analogia com a ‘conhecida’ cadeia alimentar ecológica, popularizada por Charles Elton em 1927 (Elton, 2001) no seu livro “Ecologia Animal”, ou seja os Sistemas de Informação e a Estratégia Digital subiram dos nível de produtores e decompositores a Principais Carnívoros. Tal significa que antes eram vistos como suporte técnico e agora devem ser decisores estratégicos na “Cadeia de Decisão” de negócio das empresas. 

Os Sistemas de Informação e a Estratégia Digital são o motor que pode unir negócios, tecnologia e informação, garantindo que a estratégia e os objetivos de longo prazo estejam presentes nas decisões.

Artigo de Rui Ribeiro – Autor – MIT Technology Review Portugal

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